domingo, 19 de novembro de 2017

Devaneio #6 (ST - Níveis de desenvolvimento da narrativa)

Já que eu estou no rush, vou aproveitar pra criar esse tópico que eu já estava querendo criar, agora não vai dar pra por muita coisa, mas iniciar já ajuda.

Basicamente a ideia é que é mais fácil criticar algo que já foi feito do que algo que ainda não foi feito, e o mesmo serve para histórias.

Se você pensar numa história famosa, vai achar alguns pontos onde ela poderia ter sido feita melhor, erros que poderiam ter sido corrigidos com algumas mudanças até óbvias.

Durante o processo de criação é mais complicado ver esses erros, você quer fazer algo mas não sabe se vai ficar bom, ou você negligenciou algo importante...

Pra corrigir esses erros e lapidar a obra, é interessante se colocar no papel de leitor.

Só que, a menos que você tenha uma memória insana, não tem como ser leitor de uma obra que não está escrita, é preciso ser escritor e depois ser leitor.

Você vai precisar escrever a história inteira, esperar um tempo pra ela sair um pouco da sua cabeça, então você lê a obra, tece as críticas e refaz.

Esse ciclo de escrita e leitura poderia se estender indefinidamente, mas a ideia dos níveis seria por um sentido para cada vez que esse ciclo fosse refeito, de uma forma a deixar esse movimento mais eficiente.

A ideia ainda está engatinhando, eu também pensei nisso há algum tempo e não lembro tão bem, mas a princípio seriam 3 níveis:


1 - Seria o esqueleto da história, só uma base do que vai acontecer e as ideias principais, seria uma forma de compactar a big picture e ter uma visão melhor do que se quer fazer e as ideias que se quer colocar.

 Também é possível chamar isso de desenvolvimento da trama.
atualização1:  Vou analisar depois essas ideias, mas na verdade o esqueleto ou a estrutura seria a base que explica como um mundo funciona, a política, economia, geografia, a sociedade, a física... Seria mais relacionado às regras que regem o mundo e seria importante pensar nisso primeiro porque o que vai acontecer nesse mundo precisa obedecer às regras dessa estrutura.

Definir e explicar  a estrutura torna mais fácil compreender o que está acontecendo dentro da história e provém um certo senso de realidade a ela.

Nesse caso não seria um problema para a trama em si, poderia impor algumas limitações chatas na hora de pensar nela, mas é até possível pensar nas duas coisas ao mesmo tempo, só que definir a estrutura é a prioridade nesse primeiro momento.

Nesse caso talvez não seja possível chamar de trama.

2 - Seria a carne da história, aqui teria um desenvolvimento maior dos componentes e mecânicas que formam o mundo, já teria uma definição dos personagens e relações entre eles, e até mesmo os acontecimentos e ideais que eles carregam e como isso vai mudar com os acontecimentos da trama, é o momento também de desenvolver as âncoras.

Também poderia ser chamado de desenvolvimento do lore.


3- Seria a pele da história, nesse ponto teria um desenvolvimento de personagens mais ligado ao feeling, com as tramas e relações definidas, já seria mais fácil criar as conversas e pensamentos aqui, também seria mais fácil pensar nos detalhes das cenas sem esses detalhes serem aleatórios;

Bem, pelo menos imagino que é melhor pensar nos detalhes quando já se tem tudo planejado e bem definido, porque os detalhes podem ser colocados lá pra significar alguma coisa e não apenas de forma aleatória, e é interessante pro leitor ter a noção que cada coisinha é importante.

Poderia chamar de desenvolvimento da estética(ou então poderia chamar de narrativa já que seria o momento onde a narrativa seria definida de fato, levando em conta a trama e a composição do lore)...

Se as âncoras são desenvolvidas na carne, as correntes são colocadas na pele, elas fazem referência a algo mais profundo dentro da obra(às âncoras).

Isso tudo serviria para um tipo de história que eu chamo de "história fechada", que é pautada pela trama e que tem um rumo muito bem definida.





Pensando bem, talvez depois eu divida esse devaneio em 2...



A "história aberta" seria outro tipo onde a trama não é definida, ela é criada pelos personagens.

Eu não tenho uma estratégia bem pensada pra uma história aberta, mas imagino que ela ainda dependa de alguns níveis de desenvolvimento antes de ser escrita:

1- Seria a criação de mundo, antes de pensar em um personagem, é importante saber onde ele vive e pra onde ele pode ir.

2- Seria a criação das mecânicas, é preciso definir como o mundo e a física desse mundo funciona, o que é possível fazer.

3- Teria que pensar no personagem, na história dele dentro desse mundo e nas relações dele com outros personagens.

4- Daí daria pra começar a escrever criando lore e mudanças.


Tá, acabei criando umas estratégia agora, provavelmente é bem falha, eu estava pensando em começar algum projeto nas férias, acho que uma história aberta tentando usar essa estratégia poderia ser a melhor opção nesse momento...

Devaneio #5 (ST - Convicção)

Massa, acabei de pegar um insight interessante que preciso registrar.

Um aspecto importante pra se levar em conta na hora de criar um personagem é o nível de convicção que ele tem em determinada ideia.

Os níveis de certeza sobre determinado assunto são tão importante quanto o próprio assunto.

Se um personagem gosta de ficar com os amigos mas isso é mais circunstancial do que convicção, isso explicaria uma decisão de afastamento dele.

Por outro lado um personagem que tem como ideal a amizade e tem uma convicção forte sobre isso não poderia simplesmente tomar uma decisão de afastamento sem uma explicação muito boa.

Quando um personagem vai contra suas convicções, isso gera um choque no leitor e indica que algo aconteceu, é possível usar esse choque como recurso pra dar peso a um acontecimento, mas deixar esse espaço vazio também gera uma inconsistência.

Por hora não tem tanto o que dizer, é um aspecto importante na hora de definir um personagem, mas pelo menos por enquanto me parece bem simples.

Devaneio #4 (ST - Âncora e Corrente)

Esse tem que ser rápido, vou por o conceito aqui pra lembrar de destrinchar melhor depois(na verdade parece ser uma coisa tão óbvia que deve ter explicações bem mais elaboradas).

Eu tinha pensado nisso outro dia, mas hoje deu a sorte de uma discussão me trazer a esse assunto.

Basicamente a ideia é que existem "âncoras" que são estabelecidas durante a criação de uma história.

Esse termo "âncora" remete às âncoras de links e de texto que existem em alguns sites, não é a âncora de um navio, e pensei nesse nome justamente porque funciona de um jeito muito similar:

Algumas palavras e expressões trazem ao leitor um link para lembrar de algum acontecimento ou algo previamente estabelecido.

Se eu dedicar uma página para descrever o quarto do João, quando eu citar o quarto do João em outro lugar da minha obra, o leitor vai lembrar ou pelo menos ter acesso à descrição do quarto, que pode funcionar como um contexto que explica algo.

Nesse caso a âncora é a descrição do quarto de João, a palavra/expressão chave é a corrente(ou link), quando o leitor tem acesso à corrente, ela o leva direto para a âncora, e depois ele volta para a sequência da história.

Tendo isso em vista, a experiência de leitura não é algo exatamente linear, as correntes fazem o leitor voltar momentaneamente para uma experiência/conhecimento de lore anterior, é possível criar um momento de terror como âncora e associar ele a uma palavra chave(como o nome de alguém ou de algum lugar, ou mesmo de um objeto) como corrente, e em algum momento eu posso usar essa corrente pra trazer de volta aquilo que havia sido criado anteriormente para uma cena totalmente distinta.

Talvez também seja possível associar uma corrente a algo que vá acontecer no futuro, seria como uma âncora inversa(ok, agora estou pensando na âncora de um navio, deve ser porque a âncora dos links também foi pensada com esse nome por ser similar à dos navios), a corrente cai fazendo um barulho insistente, quase como se ela estivesse alertando que tem uma âncora enorme vindo por aí.

Isso me lembra que em Dr. Who tinha uma frase que se repetia bastante, e depois ela destrinchou em um arco. Às vezes uma obra vai citando algo e só mostra essa coisa depois.

Se a âncora cria um conteúdo que a corrente vai fazer referência, o fato dela vir antes ou depois da corrente mexe com a interação durante a leitura:

Quando a âncora vem antes, ela dá sentido imediato à corrente e você tem uma leitura mais bem definida;

Quando a âncora vem depois, ela posterga o sentido da corrente e você tem uma leitura mais pautada pelo mistério/confusão.


Bem, agora eu não vou chegar a conclusões muito mais fortes sobre isso, vou parar por aqui:

- A âncora é o conteúdo
- A corrente é o agente capaz de fazer referência à âncora, ela precisa estar ligada à âncora, ou seja, é preciso ter sido determinada dentro da âncora de forma marcante pra criar uma ligação bem forte
- A âncora pode se apresentar bem depois da corrente, nesse caso é necessário mostrar que a corrente pertence a uma âncora, apesar dela ainda não estar sendo vista diretamente
- O uso da âncora e da corrente altera o fluxo de leitura

domingo, 12 de novembro de 2017

Virtua #0.1


Dormir é viver!

Esse é o lema de dos jovens fascinados por Virtua.

Virtua é um universo virtual que só pode ser acessado através de um chip neural, onde milhares de pássaros coloridos voam no céu, flores estão presentes por todos os bosques e avenidas, astronautas exploram planetas em galáxias distantes e todo tipo de coisa está à distância de um pensamento.

O dia em Virtua é sempre luminoso, o céu é limpo e as poucas nuvens são divertidas. É um lugar sem fome e sem dor, onde as pessoas vão para serem felizes e sentirem os prazeres de viver.

Mas um jovem acabou de sair e acorda em sua cama mofada.


Quanto tempo faz?

2 meses hoje?

Preciso pegar mais alguma comida , mas está chovendo, as ruas fedem quando chove.

Ele pegou um guarda-chuva velho e saiu.

...

Esse fedor... faz tempo que não sinto um cheiro tão real.

A rua está tão deserta... 

A água que corre por ela reflete a luz amarela dos postes, é como se fosse um rio de ouro, é como se eu estivesse em Virtua, mas essa sensação é bem diferente.

Essa luz me dá vertigem, o cheio me entorpece, o gemido das minhas botas molhadas faz meus ouvidos tremerem...

Em Virtua tudo é tão real, mas essa sensação... Me incomoda tanto...

O mundo real não é feito pra mim, não tem porquê se apegar a esse lugar, nem a es...

Ele passa em frente a um beco estreito de uma vila de casas e olha para a figura de uma mulher, sua roupa é velha e desgastada e sua figura pálida e magra, ela esticava o braço esquerdo em diagonal e segurava a própria nuca com a mão direita enquanto se esforçava, de olhos fechados, para sentir os pingos de chuva; ela estava em um estado de êxtase enquanto sua respiração era profunda e suave.

Ela é... real?

A mulher abriu os olhos enquanto seu rosto ainda estava na direção do céu, uma expressão de surpresa apareceu lentamente em seu rosto ao virar para a direção de seu admirador, e os dois se olharam por algum tempo.

Por um momento, o coração dele bateu mais forte e ele sentiu medo do que estava logo à frente, enquanto ele permanecesse alheio ao mundo real, ele poderia ter uma vida de sonhos em Virtua, o mundo real não lhe pertencia, era um lugar proibido de onde toda a sua gente deveria desaparecer.

"Qual é o seu nome?" Ela perguntou num impulso de coragem.

"Nome..."

Ele não conseguia responder, além de se sentir confuso, a vida toda só havia sido chamado por apelidos, e ele não poderia dizer a ela as coisas do que era chamado.

"Você tem um nome?" Ela perguntou com um tom preocupado que fez o coração dele voltar a bater mais forte e seu rosto corar. 

Ela sabia que alguns indesejados eram tão solitários que esqueciam o próprio nome, e se sentiu triste por ele, ela não sabia era que ele tinha acesso a Virtua e o motivo não era bem solidão, mas ele tinha uma rejeição às coisas que o lembravam o mundo real, como um nome, por isso ele nunca se preocupou em ter um.

Droga! eu preciso de um nome normal, um nome de verdade que não faça ela pensar que eu sou algum tipo de aberração!

Mas em Virtua eu posso ser o que eu quiser e quem eu quiser, por que eu precisaria de um nome? Por que eu estou me preocupando com isso? Eu deveria apenas deixar essa maluca falando sozinha, ela não sabe que vai pegar um resfriado ficando na chuva desse jeito?

O que eu estou fazendo? Por que eu me sinto assim?

Ele respondeu num impulso:

"Lam-Ron! M-mas pode me chamar de Lam!"

Ela sorriu.

"Que nome engraçado, meu nome é Liz!" Ela respondeu enquanto se aproximava dele.

"Liz, como aquelas flores em Virtua?" Ele questionou surpreendido, cada descoberta sobre aquela mulher parecia como um achado inestimável, cada palavra dela criava uma sensação de prazer instantânea em seu coração como uma onda de choque.

Ela se aproximou enquanto olhava os olhos dele, a luz amarela refletia em seu rosto, reticulado pelas gotas de chuva, seu olhar era gentil e acolhedor.

Com a aproximação, ele podia sentir que a respiração dela também estava acelerada.

"Você não sabia? Também existem flores no mundo real..."

Por um momento, ele poderia jurar que o fedor da rua havia se transformado no perfume de uma flor.

sábado, 11 de novembro de 2017

Devaneio #3 (ST - Narrador)

Eu vou fazer algumas histórias mais pra frente pra testar algumas ideias que eu tenho sobre storytelling, e vou tentar explicar essas ideias de uma forma mais organizada se eu ver que elas funcionam na prática e não só na teoria.

Uma dessas ideias é a sobre o narrador da história.

Antes de começar a entrar no assunto, eu quero registrar que é meio estranho estar falando disso num devaneio porque é um assunto relativamente bem definido, e um devaneio é algo mais aleatório; porém, eu ainda não tenho uma ideia bem definida, eu quero tentar encontrar alguma coisa enquanto escrevo esse post, e isso parece um pouco com devaneio, então vou registrar dessa forma, e inclusive talvez eu faça de novo dessa forma: com um assunto específico em foco.


Agora eu estou um pouco frustrado porque fiquei o dia no pc e não consegui fazer muita coisa(quase nada na verdade), mas não acho que isso vá atrapalhar muito.

O que eu quero fazer aqui é organizar melhor as ideias sobre o narrador de uma história, ou melhor dizendo, como escrever uma história.

Talvez possa sintetizar melhor a questão com: Quem escreve a história?


Nas vezes que eu tento escrever uma história eu tenho muita dificuldade pra pensar em como eu deveria fazer:

Deveria ser através da visão de um personagem ou como um narrador onisciente? Ou talvez como um observador...

O problema é que a narrativa é limitada pelo narrador, eu não posso escrever uma história pela ótica do meu protagonista e depois tentar explicar as coisas que ele não viu.

Aliás, eu até poderia, mas isso implicaria em uma mudança de narrador, que seria um recurso confuso pra se usar o tempo todo porque o leitor não saberia ao certo quando seria o narrador ou quando seria o personagem...

Uma forma de resolver essa confusão poderia ser colocar os pensamentos do personagem em itálico e mudando a cor; e uma legenda poderia ajudar...

Claro, isso teria que ser feito com cuidado e com algum conhecimento sobre o uso das cores, e não poderia deixar a página toda colorida criando um clima confuso(a menos que a confusão faça parte da cena).


Outro problema, antes que eu me esqueça, é que a narração do narrador e do personagem são diferentes...

A narrativa de um narrador é para "você" ou para "ele"(uma terceira pessoa que estaria ouvindo a história), a narrativa de um personagem é para si mesmo.

É diferente de um post nos devaneios onde eu falo para mim mesmo às vezes e outras vezes falo para um leitor imaginário...

Quer dizer, existem diferentes tipos de narração, eu tenho que admitir que não tenho tanto conhecimento para isso(talvez já tenha dado para perceber XD), mas é possível identificar 3 tipos que são os mais óbvios pra mim:


1- O narrador que fala algo para si mesmo: Se ele estiver são ou em situações normais, ele não tem ciência de que ele é um personagem de uma história e tem alguém lendo seus pensamentos, então normalmente ele não pode agir como se ele soubesse disso.

Digo normalmente porque mesmo alguém que fala para si mesmo às vezes pensa como se estivesse falando para alguém, simulando algo que esse alguém poderia dizer, pensar ou fazer. Nesse caso tanto o "eu" da narrativa quanto o "você" pertencem à mesma mente, quando o leitor ler, vai notar que o personagem não está realmente falando com ele.


2- O narrador que fala algo para o leitor: Esse tem noção de que é alguém dentro de uma história, mas por conta dessa noção, ele salta da história para o leitor.

Ele indaga, diz o que pensa, tenta imaginar o que o leitor poderia estar pensando, mas tem noção de que o leitor é alguém real; ele olha para o leitor não com os olhos da imaginação, mas como quem olha para uma parede tentando enxergar o outro lado, as folhas do livro são a parede, se ele for capaz de olhar além das folhas, ele pode olhar nos olhos do leitor.

A diferença entre o narrador 1 que fala consigo mesmo como se estivesse falando com outra pessoa e o narrador 2 é como a diferença entre se imaginar conversando com uma pessoa e conversar diretamente com ela.

O narrador 2 é como alguém escrevendo uma carta, o narrador 1 é como alguém treinando como vai pedir um aumento para o patrão.

Eu gosto desse porque é o narrador que o leitor pode chamar de "você", apesar de que isso é bem complicado de alcançar...


3- O narrador que fala algo para alguém: Esse é um misto entre o 1 e o 2, porque ele não tem uma consciência muito concreta do leitor, mas ele tem consciência de que está contando uma história para alguém que ele pelo menos imagina ser real.

Poderíamos dizer que o narrador 1 viraria o narrador 3 se ele alucinasse ou simplesmente contasse uma história para outro personagem.

O narrador 2 acabaria virando o 3 ao formar uma imagem imaginária do leitor e começar a conversar com essa imaginação, atribuindo falas ao leitor que não são dele, mas principalmente ao fazer o leitor perder a noção do "você".



Bem, podem haver outros, mas por hora esses 3 são os básicos, e não tentei forçar o 3, realmente são os que eu penso que existem.

Existem diferenças muito concretas na forma como eles interagem:



O narrador 1 é o Pensar, ele não tem noção de tudo que acontece e nem tem propriedade suficiente pra explicar a motivação de outros personagens a menos que ele argumente bem, ele tem que seguir toda uma lógica que limita bastante a narrativa, mas é a forma mais imersiva e pura de explicar um personagem: simplesmente deixando ele se explicar e não dizendo o que ele é.

Na minha visão, o Pensar é a forma perfeita de exposição, e entra em algo que eu achei chato em uma história que eu li há alguns meses(apesar deu ter me apaixonado por ela e que talvez eu esteja só exagerando), vou tentar explicar:

Nosso herói vê sua amada e o narrador começa a explicar a beleza da cena e o que o herói sentia, então ele usa palavras como "elegante", "deslumbrante", "inesquecível" de uma maneira apenas expositiva.(Se eu tivesse a cena aqui eu mostraria, daria pra visualizar melhor porque eu mesmo não lembro muito bem)

Dizer para o leitor que uma personagem está muito elegante ou usar vários sinônimos dessa palavra é meio redundante. Pense bem: Se o leitor leu uma explicação de como a personagem estava, ele vai ter uma noção de que ela está elegante, se ele não leu, ele não vai ter essa noção só com uma exposição tão direta, ele só vai pensar "tá bom..."

Nesse caso em questão, após uma explicação de como a amada estava pelo Pensar ou mesmo por outro narrador(até porque geralmente não faz muito sentido o Pensar explicar essas coisas), o Pensar do herói poderia mostrar ao leitor o impacto de uma forma pura e pessoal, deixando o leitor tirar suas próprias conclusões através dos acontecimentos em si e não através de uma conclusão que o narrador já mastigou.

E o Pensar é basicamente a forma de expor um personagem de forma pura, que eu imagino que seja a forma certa; é melhor que o próprio personagem defina seus pensamentos e ideias do que o escritor, porque parece mais natural, quando o escritor diz algo incoerente, parece que ele está tentando forçar esse algo.


O narrador 2 é o Outro, ele não precisa ser tão localizado quanto o pensar, mas ele precisa ter noção do leitor e ele precisa falar com o leitor diretamente. Talvez esse narrador se torne mais comum com as IAs, mas num livro ele tende a ter um espaço limitado para aparecer, muitas vezes como uma consciência que faz um personagem quebrar a 4ª parede, outras é o narrador tentando te explicar algo diretamente...

Esse narrador me parece a melhor forma de criar um coleguismo com o leitor, uma forma do narrador se tornar amigo do leitor, e me parece ser importante que ele tenha noção de que não pode ouvir o leitor(a menos que ele possa...) pra deixar firme a noção realista da interação.

Se o Outro fizer uma pergunta ao leitor e prever de forma incorreta a resposta, o leitor vai perder a noção de uma interação em 2ª pessoa e vai ter uma noção de 3ª pessoa, isso muda bastante a relação, é como a diferença entre conversar com um amigo e ver uma pessoa conversando com outra...

Acho que esse narrador é muito comum em propagandas e em alguns textos direcionados a um público específico, onde algumas pessoas podem identificar o narrador como "você" e outras podem identificar como "ele", dependendo de quão certeiro o narrador consegue ser.

Mas pense bem: Se o Outro souber que ele não pode lhe ouvir e a conversa sempre levar em conta essa ideia, é possível manter uma conversa sem correr o risco de perder essa conexão do "você", seria jogar no seguro, apesar de que o risco de tentar prever o que o leitor vai pensar seja bem recompensado.


Apesar dessa entrada no "ele" meio que transformar esse narrador no que vou explicar a seguir, imagino que a noção ou preocupação com o leitor é o determinante, porque mesmo que ele passe para o "ele", se essa preocupação persistir, é possível voltar para o "você" rapidamente, como se o narrador fosse alguém falando com 2 pessoas e uma delas é o leitor.



O narrador 3 é o Orador, ele conta a história para alguém que geralmente é um personagem mas que também pode ser outro narrador.

A diferença básica do Orador para o Outro é a falta de preocupação com o leitor, ele conta a história para um terceiro ou simplesmente conta a história como quiser, é mais simples de fazer, mas dá pra usar a pessoa pra quem ele conta a história como uma forma de interação.

Certa vez eu tentei ler um livro que tinha 2 narradores contando uma história e esses 2 narradores ficavam discutindo um com o outro, e eu achei esse um bom uso do Orador. Não terminei de ler o livro, depois vou ver se ele ainda existe, isso era da época que eu era criança...

Algo interessante do Orador é que ele é mais ligado ao lore do que ao leitor, então ele tem mais relação com a história e ele acaba tendo um potencial imersivo um pouco maior do que o Outro.



Isso me faz pensar, na verdade existe outro narrador...


O narrador 4 seria o Descritor.

O Descritor é limitado pela explicação de algo.

Quando eu converso com alguém e quero explicar algo, eu preciso esquecer a pessoa por um momento e me concentrar naquilo que estou explicando, então eu passo por uma imersão dentro de minhas experiências e começo a descrever as coisas.

Mas o Descritor provavelmente seria usado mais como um recurso narrativo pra explicar uma cena de forma um pouco mais impessoal...

Ele entra um pouco como uma faceta do Pensar, do Outro e do Orador, porque independente de quem seja o orador e pra quem ele esteja falando, seja pra si mesmo, pro leitor ou pra um terceiro, vai ter momentos onde ele precisa se lembrar ou ver, e explicar o que viu.

Às vezes eu tenho que falar pra mim mesmo ou pra alguém sobre algo que eu vi, eu meio que tenho que parar de me concentrar na pessoa, até mesmo percebi que olhar nos olhos atrapalha a explicação, esse seria o Descritor, alguém que se concentra em algo e não fala pra alguém, ele apenas trás à mente e explica com palavras.



Já está ficando bem tarde, vou ficar nisso mesmo, acho que deu pra organizar melhor as ideias.

Quando eu tiver mais tempo eu vou tentar começar a história, mas talvez eu comece mesmo sem tempo...

Não vou corrigir o texto agora, deve estar cheio de erros, mas foi até mais tarde do que eu previ e pode ser melhor dar uma relida depois que os pensamentos se esvaírem, ou como é um devaneio, os erros acabam fazendo parte...

domingo, 5 de novembro de 2017

Devaneio #2

Já está bem tarde, eu acho que essa vai ser bem rápida...

Eu ia tomar banho agora para ir dormir, mas eu fiquei parado na janela pensando um pouco.

Hoje eu meio que descobri que um amigo morreu, mais um amigo que se foi, mas um que talvez eu devesse ter tido um pouco mais de atenção...

Eu não sei bem o que pensar enquanto eu estava na janela ouvia o barulho contínuo de vento  como se passasse por um túnel e por alguma razão eu me sentia sem ar e vim parar aqui para falar sobre alguma coisa que eu não sei bem o que e...


Ok, há algum tempo atrás eu me senti de um jeito difícil de explicar, era um mal estar, um sentimento de desaceitação comigo mesmo.

Naquela época eu fui deixando tudo de lado, era um época que eu tinha acabado de terminar o ensino médio e não sabia bem o que fazer, mas eu tinha alguma estabilidade e um trabalho, e tinha alguns jogos que eu gostava de jogar à noite, e tinha várias coisas vãs pra pensar durante horas e horas, e eu realmente pensei bastante nessas coisas...

Esse amigo faz parte das coisas que eu fui deixando pra trás, ou fazia... talvez eu tenha escrito o "faz" por ainda não ter tido a confirmação ou porque a ficha não caiu...

Eu não sei como eu devo pensar sobre isso, é certo que cada pessoa faz suas escolhas, mas também é certo que a ação de uma pessoa tem o poder de alterar coisas, a existência é percebida e funcional, mesmo que não se tenha tanto controle dos resultados.

Melhor fechar a janela...

Se eu ainda existisse, se eu não estivesse em coma... não sei se já saí desse coma... sinto que entendo melhor as coisas mas continuo deixando as coisas de lado.

 ...

Eu queria encontrar uma pessoa especial, mas depois de alguns pensamentos e insights, todas as pessoas me parecem especiais, será que existe algum fator novo que eu não conheça que torne uma pessoa mais especial que todas as outras?

Parece desencontrado, mas isso é sobre um pensamento que eu tive um tempo atrás, quando estava confuso e queria respostas.

Eu lembrei de pessoas que eu tinha como especiais, pessoas que poderiam ter mudado a minha vida e criado uma realidade onde eu teria alguém pra compartilhar esses pensamentos, talvez até esses devaneios que eu sempre tenho, ou talvez eu continuaria agindo de maneira autoprotetora.

Não, na verdade eu me refiro a algo maior, um relacionamento que é intimo em todos os sentidos, algo único na vida de uma pessoa porque só pode existir enquanto for único, senão é apenas um pedaço dividido em várias partes.

Mas eu lembro que dessas pessoas eu reti um olhar: de uma era um olhar como uma pergunta ou uma curiosidade, de outra era um olhar confuso e cheio de incerteza, de outra era um olhar alegre e pulsante, e esses 3 olhares me marcaram...

Pensando bem, agora eu lembro de um sonho que eu tive alguns anos atrás durante esse coma...

Eu lembro que eu estava com uma garota de cabelos pretos e curtos, e ela era tipo uma princesa que queria andar comigo pelo mundo, como em uma história que eu guardo dentro do meu coração há um pouco ainda mais de tempo.

Nós fomos até uma árvore que me lembrava uma árvore do lado de uma pequena igreja que eu ia enquanto criança(menos de 10 anos), onde eu conheci melhor a garota de olhos confusos.

Nessa árvore tinha algo como um balanço onde outras duas garotas que eram irmãs da garota de cabelo preto estavam.

Uma delas tinha longos cabelos ruivos cacheados, e ela tinha o ar de irmã mais velha, e tentava fazer a garota de cabelos pretos desistir da ideia de viajar pelo mundo, e as duas entravam em conflito o tempo todo...

Enquanto isso, a terceira, que era uma garota tímida de cabelo azul e liso, se levantou e começou a patinar em um lago de gelo(sim, houve alguma mudança no cenário, mas pareceu muito natural), e enquanto ela patinava, os flocos de neve caíam e as garotas brigando começavam a olhar hipnotizadas para a dançarina, que tinha movimentos tão belos que não consigo descrever, era realmente um sonho.

Curiosidade, incerteza e alegria foram os olhares que me cativaram(ou pelo menos o que eu penso deles nesse momento), e pensando bem, foi bem parecido, apesar que não consegui associar bem a alegria, eu lembro que eu tinha um sentimento de aceitação com ela...

Ela sorria mas talvez não seja sobre alegria e sim sobre aceitação, saber que alguém sorri de volta...

Então eu deveria dizer, curiosidade, incerteza e aceitação?

Mas aceitação ainda não é a palavra certa...

Deveria ser uma palavra que retratasse um sentimento de ser aceito e não de aceitar, mas não relacionado a pertencer...

Mas também não pode ser algo como uma confirmação, pois sei que era algo além disso, talvez algo como se sentir querido...

É normal ser tão difícil encontrar uma palavra para o sentimento de se sentir desejado por alguém? Será mesmo que estamos tão presos a uma espiral de interesse que esse tipo de sentimento não é tão considerado pelos que se tornam adultos e escrevem para milhões, é realmente algo lembrado apenas por pessoas como eu que escrevem blogs para ninguém, tendo devaneios às 2 da manhã?

Eu amava aquela pessoa, mas mesmo criança eu tinha muitos receios sobre o que meu pai iria dizer, mas quando eu penso sobre isso, eu queria ter ficado com ela por um tempo, pra saber como é quando alguém quer você, algo que eu não consigo acreditar que tenha acontecido outra vez depois daquilo.

Hoje, quando uma garota me diz que gosta de mim do outro lado do computador, eu não sei se ela realmente gosta e não sei o que ela viu, não foi que nem a terceira pessoa que me olhou nos olhos e insistiu em sorrir todas as vezes.

Se eu pudesse criar uma palavra para esse sentimento, eu diria que ele é como uma dança, eu diria que ele é alegre e prazeroso, e diria que ele é imersivo e desejável, e que é certamente inesquecível.

Não sou mais criança, quando olho pra alguém, a pessoa sempre vai sentir algum receio.

Quando éramos crianças, tínhamos a oportunidade de criar esses relacionamentos, ter essas experiências livres, e hoje, quando tento ser como eu era quando criança, eu me deparo com uma montanha dos mesmos receios que imagino que a outra pessoa também tenha.

E talvez, pode ser que essas coisas dentro de cada um criem um empecilho pra esse momento quando se olha pra alguém, e adultos nunca se aceitam, estão sempre vendo barreiras para chegar até o outro, e quanto mais próximo alguém chega, mais difícil de torna olhar dos olhos...


Acabei estendendo tudo isso pra chegar até aqui, algo sobre olhar nos olhos de alguém, só que não é apenas isso, é se conectar ao outro, se sentir parte com o outro e descobrir algo novo, em um movimento que não deve parar...

Esses olhares foram os que me marcaram, parece mais estranho que o contexto tenha sido mais romântico, mas eu nunca fui de olhar muito nos olhos, então acabou que essas foram as exceções, e também todas aconteceram antes dos 12 anos.


Agora que percebi que tangenciei bastante, mas todo esse assunto era algo que eu não queria deixar passar, e na verdade é bem mais complexo, na verdade mesmo eu só desenvolvi mais sobre a terceira pessoa agora, antes eu tinha pensado mais sobre a primeira e a segunda, talvez seja algo pra tentar devanear depois...

Mas todas essas pessoas foram pessoas que eu tive que deixar para trás.

Em todos esses casos houve a questão do olhar que dizia algo que as palavras não podem expressar, e isso só foi possível porque existia algum relacionamento afetivo ou a ideia dele em algum nível
Eu me importo com você

Eu quero entender mais sobre você

Eu gosto de você

O que você pensa sobre mim?

O que você espera de mim?

O quê você vê de especial em mim?

Com esse olhar, eu sei que você decidiu me amar...

Foi daí que surgiu toda a minha ideia sobre o olhar, sobre se conectar com a outra pessoa, o resgate ao tão aclamado amor pelo próximo que se traduziria em uma conexão; apesar da ignição ter sido um pensamento egoísta, algum senso de empatia resgatara o amor.

As pessoas tratam o amor que culmina em um romance e o amor que culmina em amizade como duas coisas até mesmo opostas.

Eu penso que não é bem assim, a pessoa que se tem um romance é a pessoa que se tem níveis de relacionamento mais profundos, então é mais fácil de reter as experiências de conexão a partir dela.

Talvez a outra pessoa seja um filho, mas ainda não tenho nenhum, então não posso saber...

E ainda existem os amigos, que tive alguns importantes que também tive que deixar para trás; mas no caso deles não acho que foi o olhar que me marcou, mas a presença que tinham em momentos onde eu teria ficado solitário que não os tivesse. Apesar que no final, quase todos ficaram distantes..

sábado, 28 de outubro de 2017

Devaneios sobre Storytelling #1 (Fundamentos)

~ ~ ~  Por quê?  ~ ~ ~ 

Eu não posso dizer que tive um contato grande com livros de histórias a ponto de me orgulhar, eu li várias histórias,  principalmente mangás, mas acho que poderia ter lido mais...

Eu posso dizer que, na minha primeira fase de vida(~9), eu tive experiências que me marcaram, principalmente porque eu não conseguia terminar as histórias que lia: Um livro com as últimas folhas faltando ou um desenho eu amava mas que eu não conseguia assistir, séries e novelas que me tocaram e eu não pude assistir, filmes que eu desejava ver mas nunca pude, e que até hoje não vi.

É engraçado quando paro pra pensar nisso, mas de certa forma, isso também se estendeu pra minha vida: Amigos importantes que se mudaram, um amor que nunca foi pra frente, um irmão que parei de ver, amizades desgastadas... oportunidades e relações que não se tornaram completas, e um sentimento de frustração o qual eu já me acostumei.

E quando paro pra pensar nisso, penso que outras pessoas devem se sentir assim também, eu gostaria de ouvir alguém falar sobre isso, seria bom se eu aprendesse uma forma de fazer as pessoas se abrirem...

A segunda fase(10~16) da minha vida foi estranha, foi a fase com a maior quantidade de oportunidades, mas também foi a fase onde essa apatia se abateu sobre mim e eu parei de agir como agia antes, foi uma fase onde eu não se sentia bem comigo mesmo nem com os outros. Isso melhorou muito depois que me aproximei mais de Cristo, mas ela acabou voltando depois, talvez por conta das frustrações ou das lembranças.

A terceira fase(17~), e isso pode parecer estranho, mas o marco foi quando eu li One Piece como um louco durante 1 mês; nessa época, talvez tenha sido porque eu pude ler até me fartar, ou talvez porque a obra me ajudou a organizar ideias e sentimentos, mas foi quando eu comecei a pensar sobre histórias e sobre as coisas que as histórias conseguiam me fazer sentir.

Não foi tão rápido, nessa fase eu também perdi muito tempo com outras coisas, mas de alguma forma os meus pensamentos ficaram muito mais organizados. Antes eu ficava sem entender quando me sentia de alguma forma, hoje eu quase sempre tenho alguma explicação, e eu acho que devo muito isso às reflexões enquanto lia algumas obras.

Eu tenho um pensamento sobre isso: nenhuma resposta sobre algo abstrato é correta, mas todas elas poderem ajudar a entender alguma coisa ou são pelo menos uma base para um próximo entendimento mais elevado(apesar que ideias erradas podem fazer essa base desmoronar).

Então, eu comecei a pensar bastante sobre o que eu via, e ainda falta estudo para eu entender melhor, mas eu gostaria de ir registrando o que eu já pensei.



~ ~ ~  O quê?  ~ ~ ~ 

O que seria a arte de contar uma história?

Eu imagino que essa resposta passaria sobre 3 aspectos:

1: O Tema

Uma história parte de um tema. As palavras não são o mais importante, mas sim o questionamento e o sentimento que elas conseguem trazer, é por isso que histórias podem ser contadas sem usar palavras, porque uma história é alusiva.

As palavras deram à humanidade um poder gigantesco de fazer alusões, mas acredito que essa é uma daquelas situações onde temos que lembrar que a caneta não é mais importante que o desenho, e não entenda errado, a caneta é essencial, mas ela é instrumento e não objetivo.

Um homem das cavernas poderia desenhar uma criança na parede de sua caverna, sempre que ele olha para o desenho, ele lembra dele mesmo. Outro homem aparece anos depois e vê o desenho, quando ele olha, ele lembra de seu filho.

Quando você quer analisar o significado de uma obra, o ideal é separar bem as coisas, aquela obra pode ter um significado para o autor e outro para o leitor, esse significado não é algo intrínseco da obra, mas ele é criado pela alusão que ela trás ao seu apreciador.

É preciso separar também significado de intenção, o que o autor queria fazer é a intenção, cada resultado de uma interação com a obra cria um significado próprio, mas é possível pegar uma dessas interações e registrar, e então mostrar a obra por essa ótica e criar um "significado universal", que pra mim, nada mais é que um registro de uma abstração. Quero só finalizar dizendo que eu acho justo que alguns significados sejam mais interessantes do que outros, a quantidade de contexto que alguém é capaz de relacionar e a concretude realmente podem criar um significado mais elevado, e isso pode até ser convencionado, mas é apenas abstração, não existe um elo material.

Pode ser complicado de lidar com essa separação toda, mas é preciso entender que não dá para controlar o significado de uma obra, e nem é interessante que isso seja feito.

Se o leitor não vai ter acesso às experiências que o autor tinha quando fez a obra, ele poderia sentir as mesmas coisas? Não é melhor trabalhar com as experiências do próprio leitor, que vão sei muito mais importantes para ele e vão aumentar bastante a eficiência da história?

É preciso pensar da perspectiva do outro quando se escreve, é por isso que eu tenho uma visão de "tema" que tenta se enquadrar dentro do que o leitor facilmente pode perceber e entender.

Nessa visão, o tema é composto de 2 aspectos:

- Um aspecto da vida.
Acontecimentos(brigar, disputar, festejar...)
Sentimentos(amor, ódio, ansiedade...)
Instituições humanas(família, filas, justiça...)
 Dentre vários outros.

Eu qualifico isso como um tipo de experiência que existe e que a alguém costuma ter, um campo do conhecimento ou da experiência(até mesmo não humana) que é usado como base ou que é focado para deixar mais claro e aproveitar melhor o conteúdo e a própria capacidade do leitor de manter a atenção focada naquele tema.

- Questionamentos.
Dar uma resposta é complicado, e para o leitor, aquela resposta pode ter vários motivos para estar errada, e talvez ele até tenha razão(provavelmente alguns terão).

Eu tenho observado que alguns autores dão muito destaque pra algumas respostas e os leitores muitas vezes notam as inconsistências e criticam bastante a obra(com alguma razão). Mas isso tem um problema(pelo menos na minha visão): "nenhuma resposta sobre algo abstrato é correta". Não dá pra acertar, quando se trabalha com respostas, é melhor pensar em "ação e consequência" e trabalhar com questionamentos, tentar manter a coerência e não ter medo da resposta estar "errada", mesmo que você tenha um elo afetivo com aquela resposta.

Outra coisa é que as respostas são testadas pela narrativa, é um erro estrutural testar a narrativa pela resposta sendo que a resposta é um produto da própria narrativa(pelo menos da forma como ele se apresenta nela). E o que muitos autores parecem fazer é ter uma resposta sobre um aspecto da vida e construir uma história sobre essa resposta, e se a narrativa parece entrar em conflito com essa resposta, eles mudam a narrativa e criam inconsistências a fim de poder dizer aquilo que querem.

É uma forma mimada de pensar. É mais interessante se você pensar em questionamentos e fazer suas personagens darem respostas, sempre tentando manter a coerência, e se você não gostar do rumo das coisas, talvez seja porque você mesmo deveria questionar aquela forma de pensar.

Primeiro você define o questionamento, depois suas personagens dão respostas, depois você mostra as consequências e depois uma resolução. A resolução é da própria personagem, é interessante que, caso você queira muito dar uma resposta, ela só apareça na resolução, pois o que acontece nela é passivo de questionamento e tem um caráter de opinião, é como se a personagem tivesse aquela ideia e o leitor pode questionar sobre ela no final da leitura, e quando ele fechar o livro, ele vai poder pensar sobre aquilo.

Questionamentos criam oposições entre ideias, pois as respostas de uma personagem podem ser questionadas por outras(tese e antítese), isso gera conflitos que podem ser explorados em diálogos e disputas, então, é interessante questionar sempre que possível.

Eu me estendi bastante, mas em resumo, esse primeiro aspecto se refere a questões mais filosóficas por trás da obra.





2: O Ambiente Abstrato

pós-add: Possibilidade e frustração, dá pra usar os 2 aspectos para tocar o leitor

Acredito que nós usamos detalhes de nossa experiência sensível com o mundo em que vivemos para criar e recriar ambientes de nossas memórias; os sentidos são essenciais, uma pessoa sem sentidos não poderia aprender a criar mundos e viveria numa escuridão eterna.

Mas seguindo essa ideia, o ambiente abstrato seria formado por todos os elementos que fazem alusão à sensações: Um beijo, o som do trânsito, a aparência de alguém, o cheiro de chocolate, a sensação de equilíbrio, a dor e o prazer, todas as sensações juntas criam a abstração do ambiente, e o ambiente cria a possibilidade e a limitação.

A oposição entre a possibilidade e a limitação(frustração) é muito importante pra criar "conflitos sensíveis". Os conflitos sensíveis seriam sensações que causam prazer ou sofrimento relevantes a ponto de acionar um pensamento ou uma emoção.

Eu penso nesses conflitos como pontos de ignição, um cheiro que faz a pessoa apenas reconhecer o ambiente não seria um conflito sensível, mas se um cheiro remete a memórias felizes ou a um trauma e fazem a narrativa entrar no tema ou no desejo(que é o próximo ponto), aí sim ele seria um conflito sensível.

Talvez eu esteja falando apenas o óbvio, mas é interessante notar que os elementos do ambiente são elos de ligação com elementos dos outros dois aspectos(tema e desejo), sempre que um elemento desses for apresentado, tem uma boa chance dele remeter a algo, e perceber o elo que o elemento tem ao colocá-lo na cena, pode ser vital pra construir uma narrativa precisa e complexa usando um pequeno número de palavras e ganhando fluidez.

O que é melhor: Explicar como uma personagem é desleixada ou simplesmente dizer que tem vários copos espalhados pela casa? Explicar que houve uma festa na noite passada ou apenas dizer que tinha caixas de pizza debaixo da pia? Explicar a personalidade de uma pessoa ou apenas pôr as nuances nas ações dela?

Cada situação demanda um tipo diferente de abordagem, às vezes é melhor explicar bem, às vezes essa explicação só torna o texto muito chato de se ler.

Eu acho que é interessante deixar o leitor participar do processo criativo, essa ideia de abusar dos elementos do ambiente abstrato para explicar coisas pode dar uma margem para interpretações equivocadas mas, pra mim, vale a pena.

Outra coisa importante é lembrar que as sensações podem ser positivas ou negativas(e existem nuances de positividade e negatividade), tomar cuidado para não ligar uma sensação negativa a um sentimento positivo é importante, ou se essa ligação acontecer, que exista um motivo consistente por trás para não causar estranheza.

As sensações provocadas pelo ambiente geram as experiências nas personagens, algumas nuances do comportamento delas pode remeter a essas experiências, então é precisa se atentar a isso sempre.


3: O Desejo

O que faz uma história ser boa?

Eu admito que essa opinião é ainda mais pessoal do que as outras, que tenho sentimentos que me fazem dizer as palavras a seguir, esta foi a minha conclusão:

É o desejo que faz uma história ser boa.

Eu fico muito feliz vendo histórias sobre relacionamentos(de todos os tipos) porque um dos meus desejos mais profundos é ter bons relacionamentos, apesar de que, talvez por conta de algum grau de autismo, eu tenha dificuldade de conversar e de me aprofundar nos relacionamentos que eu tenho.

Quando eu escrevo eu sinto que consigo dizer muito mais do que quando eu falo, e parece que quando eu falo, nada sai como eu gostaria, ou eu não sei ler direito as pessoas, ou eu fico disperso e perco o timing. Talvez o problema seja que, na hora da verdade, eu acabo tendo receio em me abrir ou em ficar em uma posição vulnerável, eu tenho problemas pra confiar nas outras pessoas.

Engraçado, até agora eu não tinha pensado nisso de uma forma tão clara, mas é assim mesmo...

Quando eu vejo uma história que fala sobre esses relacionamentos e sobre confiança, a história se torna automaticamente boa, ela me dá aquilo que eu mais desejo.

O desejo está presente em várias personagens em formas diversas, o desejo é aquilo que impulsiona, e quanto mais desejo, mais importantes se tornam as ações. O desejo é sobre aquilo que não se tem, é sobre sair de um estado de menos felicidade para um estado de mais felicidade, é sobre preencher os vazios que se formaram através do tempo, é o que promove a ação e sem ele a trama não faz sentido.

O desejo pode culminar em realização ou frustração.

A realização ou a frustração se transformam em sentimentos, e esses sentimentos geram novos desejos e isso tudo gera um ciclo. É interessante não abandonar o ciclo depois dele ter sido criado, se um personagem deseja algo, é bom que a sua realização ou frustração se transforme em um sentimento que traz num novo desejo até que ele chegue a uma conclusão nova e ponha fim nesse ciclo.

É importante notar que o desejo tem um elo de ligação forte com a temática e com o ambiente, ele é uma resposta aos questionamentos da temática e ele gera uma necessidade de agir sobre as possibilidades do ambiente.

As limitações do ambiente(físico ou metafísico) geram algo que eu chamo de "parede intransponível". Essa parede é uma impossibilidade de realizar um desejo, é uma situação onde a frustração é inevitável e que gera um sentimento de desesperança.

A morte, o tempo, a distância, a sociedade e a incomunicabilidade(que abrange não só a parte linguística como a cultura e a empatia) são exemplos de paredes intransponíveis que fazem parte da realidade e são entendimento comum ao ser humano.

Criar paredes intransponíveis tende a causar frustração, quebrar essas paredes costuma causar satisfação. Lembre-se que o leitor também tem seus próprios contextos, se ele tem uma parede intransponível na vida dele e a sua história quebra uma dessas paredes, a sua história será boa na visão dele, então quebre as paredes, isso é gigantesco.




~ ~ ~  Como?  ~ ~ ~


Cotidiano
Acontecimento
Adaptação
Mudança


Há uns 2 anos atrás eu li em um blog sobre a storytelling  Dan Harmon, este é o link da matéria que eu li.

Depois de ler, eu refleti nas ideias tentando entendê-las; não acho que realmente consegui, mas cheguei à ideia de que realmente existem 4 etapas em uma história onde os 3 aspectos(tema, ambiente e desejo) estão presentes em cada uma delas.

Primeiro é importante explicar que cada etapa consiste em uma relação de oposição, isso acontece por conta do mecanismo de "tese/antítese/síntese", o primeiro termo é a tese, que é o ponto inicial daquela parte, o segundo é a antítese, que entra em conflito com a tese e resulta na síntese, que é o primeiro termo da próxima parte, criando um sistema iterativo, um ciclo infindável onde a ordem é afetada pelo caos, e esse conflito gera uma nova ordem que é afetada pelo próximo caos.

Também é importante dizer que os pontos abaixo se centram em uma personagem, ao trabalhar várias personagens, é preciso lembrar que os pontos abaixo precisam ser trabalhados de forma diferente para cada uma, cada personagem é uma história e cada história é uma personagem. A narrativa pode ser a intersecção de várias histórias, caso isso ocorra, é importante separar por personagem.


1. O Lar e o Problema

O Lar fala sobre a cultura e o estilo de vida de uma personagem, é o lugar comum que molda a forma como ela entende o mundo e se relaciona com outras personagens.

O lar é a ordem, ele pode ser uma casa, uma cidade, uma loja ou mesmo a estrada. Uma personagem pode ter vários lares, cada um com suas regras e dinâmicas, e essas dinâmicas moldam a personagem, porque dá a ela as experiências que ela usa para entender tanto o ambiente do lar como os novos ambientes que ela vai vir a conhecer(pelo menos num primeiro momento até ela aprender as novas dinâmicas desse outro ambiente).

O problema é o caos que cria uma oposição ao lar. Lembre-se que isso é a nível de personagem, então essa oposição pode ser algo grande a ponto de destruir o lar ou pode ser algo interno da personagem, como uma inquietação ou um desejo por mudança.

Lembre-se que essas relações são de tese, antítese e síntese, e que a temática mexe bastante com as questões filosóficas, então é possível sim dizer que a temática e seu desenvolvimento dentro do ambiente e através dos desejos criam esse motor, esses pontos são etapas desse motor.


2. A Estrada e o Aprendizado

A estrada é a síntese do conflito anterior. Vale explicar que a palavra "estrada" é usada aqui como uma alegoria, não é necessariamente uma estrada, mas na verdade é um ambiente novo onde a personagem segue por conta de algum desejo(eu considero necessidade como algum tipo de desejo).

A estrada é sobre esperança e a ordem proveniente dessa esperança.

O aprendizado é o caos, é onde se exploram as dificuldades(até mesmo uma desesperança por entender melhor a situação) e a personagem é moldada e passa por mudanças para vencer essas dificuldades. É importante lembrar aqui que o caos e a ordem não são necessariamente bons ou ruins, depende da forma como são desenvolvidos, eles são mais sobre estados, sobre respostas(teses) que são questionadas(antíteses), e no aprendizado é a hora dos questionamentos.

Se existe um aprendiz, costuma haver um professor, e eu tendo a dizer que esse professor faz parte da estrada, tanto porque ele existe antes do aprendizado como porque ele faz parte da ordem(a esperança), mas o professor também costuma ser um agente questionador, e se considerar que ele é um personagem, então acho não faz tanto sentido prender ele dentro de algum aspecto específico.


3. A Reafirmação e a Escolha

 A reafirmação é a síntese do conflito entre a estrada e o aprendizado.

A personagem acabou de passar por um aprendizado árduo e sua mente acabou de se recuperar desse caos, aqui é hora dela se reestabilizar. Ela aprendeu, agora ela tem uma consciência superior sobre si mesma e sobre o mundo, ela explora as possibilidades novas que apareceram à sua frente, ela contempla a possibilidade do sucesso.

A Escolha entra como o caos. Esse tende a ser o ponto alto da história, pois a personagem precisa pagar um preço para ter aquilo que se quer, e isso a consome, consome o seu auge alcançado na reafirmação e cria um conflito que ameaça a sua própria existência.


4. A Mudança e o Renascimento

A mudança é o retorno da ordem depois da escolha. Após um preço ser pago e de todo o desgaste, a personagem muda e aceita aos poucos tudo o que aconteceu, ela tenta alcançar uma paz de mente, um estado de conforto, ela tenta se conformar.

O renascimento é o momento onde a mudança é questionada, onde se toma o aprendizado e a personagem deixa de lado o conformismo para retornar a uma posição ativa. Ela se torna uma nova personagem que vai participar de uma nova aventura.











...

Um personagem é forte quando um desejo forte está relacionado com ele e com o leitor.

Personagens que tem um forte sentimento de amizade, de solidão, de conquistar algo ou mesmo uma tristeza profunda...

Cada um dos nakamas de Luffy em "One Piece" foi introduzido de fato como personagem a partir de um sofrimento(e esse é outro aspecto) e um desejo profundo que o guiou para a aventura.

Naruto era um garoto rejeitado por todos, essa rejeição criou um ambiente de sofrimento que fez emergir um desejo por ser reconhecido, que o guiou no início de seu caminho ninja.

Mesmo as personagens femininas hiper sexualizadas que não servem de nada além de ser objeto do fetiche do leitor são personagens fortes quando existe um elo entre a personagem e o desejo sexual do leitor.

Apesar de entrarmos no controverso ambiente da subjetividade, a concepção e a existência desse elo de desejo é o que dá a força pra uma personagem; um leitor vai dizer que a personagem X é fraca e outro vai dizer que é forte, um diz que é ruim e outro diz que é boa, mas esse tipo de comparação não faz sentido, o parâmetro tende a entrar num caráter subjetivo e acaba por revelar preferências pessoais e desejos da própria pessoa.




Eu arrisco dizer que a existência do fator desejo tem alguma objetividade, e apesar dele não servir pra determinar o "bom" ou "ruim", ele pode determinar o "forte" e o "fraco".

Uma personagem carregada de desejo é capaz de conversar com o leitor em um nível que excede a linguagem escrita, esse elo traz o leitor para dentro da história, e então ele se vê torcendo por aquela personagem.


Só que existe um problema, pois o desejo não é exatamente algo lógico e sistematizado, é algo mais sensível e resultante de uma experiência ou um pensamento, o desejo e as palavras pertencem a dois reinos diferentes.

Para transformar palavras em desejos, é preciso que as palavras sejam entendidas como guias e não como os próprios desejos em si, é preciso entender que não são as palavras que importam, mas aquilo que elas trazem ao leitor, e o escritor precisa ter a capacidade de usar aquilo que reside dentro do próprio leitor, é preciso desenvolver a habilidade de pensar no outro, de trazer à tona o que ele tem dentro de si, e também é preciso dar tempo ao leitor.

É meio estranho pensar nisso, e realmente tenho que admitir que só estou pensando nisso(sobre dar tempo ao leitor) agora enquanto escrevo este texto...

O início da história teria que ter algumas etapas:

1. Teria que apresentar o universo inicial, bem palpável pelo leitor, seja através do uso de elementos que remetem ao mundo do leitor ou do uso de alegorias com a própria condição humana, coisas em comum entre todos nós;

1,5. Depois teria que mostrar a personagem que sofre com algo dentro desse universo inicial, criando uma transição entre o universo e o desejo.

2. Daí a personagem, com suas características próprias, motivada pelas suas experiências com o universo em questão, desenvolve um desejo profundo. Nesse ponto é onde o escritor pode cometer o erro de seguir o caminho lógico quando esse é o momento para pôr todo o coração dentro da obra, é nesse momento que ele precisa ser a personagem enquanto ele escreve a personagem, ele precisa transitar entre a lógica da linguagem e os sentimentos, mas como fazer isso?

2,5. Depois é preciso voltar à razão, a história precisa seguir uma sequência lógica. Uma ideia que tive agora é que essa transição pode acontecer a partir de um texto com várias informações irrelevantes, com caráter puramente estético e uma condução para dentro do universo que vai ser desenvolvido a seguir, e como estamos saindo do sensível para o lógico, pode ser uma boa hora para criar algo absurdo(um acontecimento talvez?), mas que case bem com o desejo.

3. Então é apresentado um novo universo de novas possibilidades, mas também com seus próprios problemas, onde a aventura irá se desenvolver.


Storytelling é bem mais do que isso, mas essa mudança constante entre a linguagem e o sensível é algo que eu só entendi há pouco tempo, e esse é um ponto importante até mesmo como leitor: Às vezes é melhor não tentar entender uma obra com palavras.

E isso me faz pensar: Até onde as palavras são importantes?

E ultimamente eu tenho visto as palavras como caminhos; eu tenho me atentado mais ao uso das pontuações e pensado mais sobre os tempos.

Quando eu escrever uma obra de verdade, ela precisa ter um bom uso desses tempos e de métrica, mesmo que demore anos pra terminar...